ATA DA QUADRAGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 10-12-2002.

 


Aos dez dias do mês de dezembro do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Pedro Pablo Komlós, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 135/02 (Processo nº 2306/02), de autoria do Vereador Pedro Américo Leal. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 2° Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Wilson Martins, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Telmo Kruse, Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Pedro Pablo Komlós, Homenageado, e esposa, Senhora Maria Cristina Comas; o Vereador Pedro Américo Leal, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome das Bancadas do PPB e PFL, discorreu sobre os motivos que levaram Sua Excelência a propor a concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Pedro Paulo Komlós. Também, destacou a trajetória do Homenageado na área da Medicina, sublinhando a dedicação e competência demonstradas por Sua Senhoria no exercício da mesma. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, ressaltou a justeza da outorga do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Pedro Pablo Komlós. Ainda, discursou sobre o desempenho profissional de Sua Senhoria e salientou ser esta homenagem o reconhecimento do trabalho realizado pelo Senhor Pedro Pablo Komlós em prol da comunidade porto-alegrense. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Pedro Américo Leal para proceder à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Pedro Pablo Komlós, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quatro minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Reginaldo Pujol e secretariados pelo Vereador Pedro Américo Leal, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Pedro Américo Leal, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1° Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene. Ao cumprimentar os senhores a as senhoras presentes, tenho a honra de dar início à Sessão Solene de outorga do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Pedro Pablo Komlós, por proposição do Ver. Pedro Américo Leal. Compõem a Mesa, além, naturalmente, do Dr. Pedro Pablo Komlós, nosso homenageado, o Sr. Wilson Martins, representando a Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Dr. Telmo Kruse, Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; a senhora esposa do nosso homenageado.

Quero, naturalmente, saudar as Sr.as Vereadoras e os Srs. Vereadores presentes, os familiares e os amigos do nosso homenageado e demais autoridades presentes, os senhores e senhoras da imprensa e todos que nos dão o prazer e o prestígio da suas presenças nesta Sessão Solene.

A seguir, convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Houve-se o Hino Nacional.)

 

Após a execução do Hino Nacional cabe a esta Presidência enfatizar o significado desta Sessão Solene, que tem como objetivo complementar uma ação legislativa do nosso ilustrado companheiro de trabalho, Ver. Pedro Américo Leal. Caberia a mim, pelo protocolo, promover a introdução dos pronunciamentos que ocorrerão nesta homenagem.

Permito-me solicitar que o próprio proponente, ao fazer a saudação, na condição de proponente e representando inúmeras bancadas da Casa, que o designaram como seu representante, inclusive a nossa Bancada, do partido da Frente Liberal, que terá a honra de ser por ele representado que, em tempo especial, como proponente e como representante de várias Bancadas da Casa e da Mesa Diretora ocupe a tribuna e promova a saudação.

O Ver. Pedro Américo Leal, proponente desta homenagem, está com a palavra.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Não sei quantas Bancadas vão-se pronunciar. Perguntei ao ilustre Líder do PT quem seria o orador. De qualquer maneira, falo em nome da minha Bancada, que é constituída pelo Ver. João Dib, pelo Ver. Beto Moesch e pelo nosso Ver. João Carlos Nedel, e de todas as outras Bancadas que não se pronunciarem aqui.

Meus senhores e minhas senhoras, concedemos o Título de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Pedro Pablo Komlós. Ao elaborar este discurso de apresentação, destacando o médico e amigo Pedro Pablo Komlós, personalidade invulgar, que passa a integrar o elenco dos Cidadãos Eméritos e Honoríficos de Porto Alegre, sob o comando do médico Telmo Kruse, eu pensei: o que me levaria a indicar o seu nome, realçando-o como figura invulgar? Qual o motivo? Influência do seu pai, vulto inesquecível no cenário do Rio Grande do Sul, o célebre Maestro Pablo Komlós, a quem conheci? Ou a competência do Pedrito? - permita-me que o chame assim, não posso fazê-lo de outra forma. Competência - repito -, desprendimento pela coletividade, reconhecimento pelo trabalho pessoal ou coletivo? Ou, quem sabe, até a própria amizade a que me estou referindo? O que me teria motivado? Confesso é difícil estabelecer a dosagem certa, viável para essa poção, para essa beberagem que nos leva a decidir, enfim, a sugerir a outorga de um título. Observem que ao Vereador, seja ele quem for, só é dado indicar um nome por ano, apresentado ao Plenário, em votação nominal e ao ser aberto o painel luminoso pelo Presidente, acontece a escolha. É o início de um processo que o público não conhece. O processo é um calhamaço de 50 folhas, dentre as quais o currículo do homenageado - estudado -, daquela personalidade que é apresentada ao julgamento dos 33 Vereadores. Não é uma coisa “babosenta”, feita “no grito”; não, é ato sério. O Dr. Telmo Kruse que o diga, pois está a frente, há anos, desse colegiado. O processo se dá durante um ano, saiba, Dr. Pedrito, como o chamamos, amigavelmente, nas ruas de Torres.

V. S.ª nasceu em 1948, em que, como dizia Catulo da Paixão Cearense: “O meu cavalo nasceu”. Mas esse não é o ano em que o meu cavalo nasceu; é o ano em que eu recebi, nas Agulhas Negras, a Espada de Aspirante - simples curiosidade. É, pois, grande a diferença de idade que existe entre o proponente e o agraciado, o que me autoriza a dizer-lhe, de agora em diante, que V. S.ª tem para com esta Câmara Municipal de Porto Alegre, responsabilidades, que o diga o Dr. Telmo Kruse. V. S.ª não vai receber um título apenas a solenidade, vai colocá-lo sob os holofotes, evidenciando-o, pública e oficialmente. Mas aguarda a Câmara uma retribuição. V. S.ª vai pertencer a um colegiado, Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre, cujo Presidente é o já citado, e recitado e trecitado Dr. Telmo Kruse.

Os médicos conquistam, nessa poção a que me referi, o reconhecimento da sociedade. Eles constituem metade dos prêmios Nobel. Sabiam? Metade dos prêmios Nobel pertence a médicos. Por quê? – indagamos. É o reconhecimento humano, pois são eles os intermediários do bem, das esperanças, da saúde restaurada, influindo nos desvios da morte que, às vezes, teima entrar na nossa residência. Mas postergamos a recuperação eterna da saúde, como se quiséssemos ser imortais. Aliada à competência, caso contrário não buscariam os seus serviços segue parte deste reconhecimento. Não abra mão da profissão que escolheu, meu amigo Pedrito, da jovialidade que V. S.ª exibe, pois não é fácil obter e sustentar, no dia-a-dia, com pacientes desenganados, a jovialidade; que indagam com os olhos, e a pergunta não sai, não é proferida: “Como estou, Doutor? É possível?” Fazem a pergunta. Quantas vezes não deve ter ouvido essa pergunta silenciosa e muda. Sem ser Bacharel, muito menos Juiz, sem curso de Direito, o médico tem que proferir uma sentença. Como, se a vítima que indaga é o próprio agente da agressão, é um corpo atingido, sem o direito de defesa? O paciente perguntando com os olhos: “Vou viver?” Dilema da vida, mistério da existência, terreno nebuloso e desconhecido em que o médico é obrigado a conviver! É o último dos responsáveis, até o túnel luminoso de passagem, não sei se é verdade, de uma vida para outra. Um túnel. Quem sabe? Nem os médicos sabem.

Dr. Pedrito, devo apresentá-lo, este momento é solene. Nascido em Montevidéu, lá no Uruguai, tornou-se consagrado Cirurgião-Vascular, exercendo a especialidade da Medicina na linha de frente do INSS, no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre. Foi agraciado, objeto de distinção, tem seu currículo de quarenta e tantas folhas, um calhamaço que não trouxe aqui e nem podia trazer, de cursos no estrangeiro e em todo o Brasil. Eu os li, são a sua vida, nem eu conhecia, não posso citá-los, tornaria enfadonho, trabalhos realizados na Argentina, nos Estados Unidos, no México, na Colômbia, no Uruguai, na Espanha, na Escócia, pelo mundo afora e em quase todas as capitais do Brasil. Também, nas suas andanças, o Dr. Pedrito foi pregando e ouvindo, colhendo e transmitindo experiência e saber; aprendendo e ensinando como fazem os grandes e modestos mestres. Quem não aprende e quem não ensina? Quem não ensina e quem não aprende? Eu aprendi muito com os soldados. Nunca me esqueci. Tenho doutorado em Psicologia Clínica, mas, por que eu não poderia aprender com um simples soldado? Às vezes, com um moleque que pede para varrer uma sarjeta, eu aprendo. Quantas vezes me ensinaram! V. S.ª foi buscar e dar.

Todavia, sua preferência e dedicação foi reconhecida por todos e não pode ser ocultada. Os médicos são humanos, têm o direito de preferência, de escolher no fim do curso, o ramo, “a escolha de Sofia”. Eu estou com um neto nessas condições. O Tiago não sabe o que vai fazer. Brilhante, primeiro aluno, está patético, não sabe para onde vai! Eu me coloco na situação de vocês. Deve ser difícil. Preferir tomar um rumo: “a escolha de Sofia”.

Calculo, imagino, como Psicólogo que fui, a dificuldade dessa escolha.

É lá na pororoca das preferências onde se encontram as aversões, os amores e temores é que surgiu a paixão desse homem pela cirurgia vascular.

Iniciou-se a jornada, assim como o caminho de Santiago de Compostela, inexplicável, sempre uma auto-ajuda, uma busca interior.

Lembro-me que um aluno que esteve comigo na semana passada, e que fez a caminhada, eu perguntei a ele a título de ilustração: como, você trouxe mais perguntas do que respostas? “É, eu trouxe mais perguntas do que respostas”.

Quem sabe, nesse momento em que os médicos decidem sua especialidade, não fique também assim como a caminhada de Santiago Compostela, mais perguntas do que respostas...

É um percurso! Pedrito, mas tome o fardo, ergue ele, reinicia a caminhada da profissão que escolheu. Reinicie a caminhada, cada dia um novo dia, assim como o seu pai, o Maestro Pablo Komlós, batia com a batuta, antes de iniciar os concertos da OSPA; alguns eu assisti, concentrado para mais uma apresentação.

V. S.ª, amigo Pedrito, inicia todas as manhãs o mesmo toque de batuta, repare bem. Talvez não tenha reparado: há uma batuta em suas mãos. Dezenas de pessoas, de criaturas vivem sob a sua influência. É a sua jornada de vida! Começa todo dia a sua reapresentação.

Não sei se isso é bom ou se isso é mau. Quem sabe? (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Em prosseguimento aos pronunciamentos alusivos aos atos solenes que aqui se realizam, eu tenho a satisfação de conceder a palavra ao Ver. Adeli Sell para que ele se manifeste em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores. Antes, porém, e com a devida vênia do Ver. Adeli Sell, eu quero fazer um registro que se impõe, da presença da Liderança do Partido dos Trabalhadores, Ver. Marcelo Danéris; da representação do Partido Democrático Trabalhista, da figura do seu Vice- Líder, Ervino Besson, e ainda da nossa colega Maria Celeste, e do Ver. João Carlos Nedel, cujas presenças abrilhantam esta Sessão Solene.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É com muita satisfação que, em nome do meu Partido, Partido dos Trabalhadores, presto esta homenagem. Nós contamos aqui com a presença do Líder da nossa Bancada, Ver. Marcelo Danéris e da Ver.ª Maria Celeste para lhe dizer, Dr. Pedro, que, como já colocou o Ver. Pedro Américo Leal, às vezes é um pouco difícil chegar à devida conclusão, à síntese do porquê de uma homenagem, às vezes é o conhecimento cotidiano que se tem de uma pessoa. Às vezes não é isso, às vezes estamos até distantes, mas observamos as pessoas na sociedade. Conhecemos não no seu currículo por uma leitura, mas conhecemos a sua trajetória pelo cotidiano da sua ação na sociedade. O senhor tem prestado inúmeros trabalhos em prol da profissão pela qual se encaminhou. Tem viajado, tem percorrido, tem mostrado que esta vida é um eterno aprendizado e que é preciso, nessa harmonia que é a nossa vida, saber, como já bem demonstrou o Ver. Pedro Américo Leal, pegar a batuta, como muitas vezes eu vi Pablo Komlós na frente da OSPA dirigindo a orquestra. O senhor, nesse sentido, ao vasculhar o interior do ser humano com a sua sapiência e conhecimento, coloca novamente aquele ser que estava muitas vezes em desarmonia com a vida num novo patamar, num novo, num novo espaço que é a harmonia com a vida, com a saúde. É por isso que, nesta tarde de dezembro, nós temos a satisfação de lhe trazer um abraço, um reconhecimento pelo trabalho realizado. Eu sempre digo e repito: aqueles que recebem esta distinção da Câmara Municipal de Vereadores, Cidadão Honorário de Porto Alegre, sempre serão cobrados, porque como já foi dito, os holofotes estão mais sobre os homenageados. E, sem dúvida nenhuma, serão muito mais cobrados pela sociedade. Mas eu sei que o senhor é um batalhador, um trabalhador dedicado e estará sempre disposto a ajudar mais a nossa querida Porto Alegre, porque a Porto Alegre é de todos, Porto Alegre é aquela Cidade que abraça os que vêm de fora, pois assim como os portugueses que aqui chegaram e receberam o Guaíba como o lugar, o ancoradouro dos primeiros habitantes, depois vieram tantos outros e, de alguns tempos para cá, os nossos irmãos do Prata, como o senhor, e muitas outras pessoas que vêm do Uruguai e da Argentina. Enfim, esta é a Porto Alegre que lhe dá este Título, esta homenagem por demais merecida. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Convido o Ver. Pedro Américo Leal para proceder à entrega do Título ao nosso homenageado.

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título.) (Palmas.)

Neste momento, convidamos o nosso homenageado, Sr. Pedro Pablo Komlós, para fazer uso da palavra.

 

O SR. PEDRO PABLO KOMLÓS: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Embora não com o talento e a vivacidade das palavras de um político, mas há duas ou três palavrinhas que também me aprazaria pronunciar. “Há mais de trinta anos, eu vivia no Uruguai e ouvia falar de um país fabuloso, lendário, grande, cheio de belezas naturais, riquezas mil, e habitado por um povo muito generoso. Convidado a aqui trabalhar, cheguei a Porto Alegre e encontrei uma cidade encantadora. Com suas colinas e seu rio, que me fizeram lembrar a minha antiga Budapeste. Imediatamente me enamorei desta Cidade”. Com estas palavras, meu pai, o Maestro Pablo Komlós, iniciava o seu discurso de agradecimento pelo Título de Cidadão de Porto Alegre, que recebia há exatamente 30 anos, no dia 15 de junho de 1972. Homenagem proposta pelo então Ver. Pessoa de Brum e tendo como única testemunha presente em ambas as legislaturas o Ver. João Antonio Dib.

Quando o meu pai mencionava essa paixão à primeira vista, não se tratava de demagogia ou de mera gentileza vazia. O fato é que, pela primeira vez, em seus 45 anos de existência, ele se sentiu em casa, entre pessoas que o acolheram como a um verdadeiro irmão, e mais tarde, ainda no mesmo agradecimento, ele diria: “Amar o Brasil, senhores, não significa simplesmente viver bem aqui; amar o Brasil significa compreendê-lo e identificar-se com os seus problemas. Hoje eu sou brasileiro. Meu modesto desejo é um dia ser conhecido como Pablo Komlós, o regente brasileiro”.

Com esse espírito, embora nascido no Uruguai, comecei minha vida no Brasil e na minha cidade, Porto Alegre. Cresci numa família que recitava as virtudes da outrora Porto dos Casais e do Brasil. Contemplávamos juntos da saudosa doca das frutas o mais lindo pôr do sol do mundo. De calças curtas e mãos dadas com o meu pai, brasileiro por convicção, doei ouro para o bem do Brasil, como todos lembram, no átrio da Prefeitura Velha. Juntos, lado a lado, sofremos muitas vezes para que não chovesse nos dias das apresentações do então descoberto Auditório Araújo Viana, da Abertura 1812, de Tchaikovski, ou da Aída de Verdi. Muito desfrutamos do charme singular que a Rua da Praia exibia na década de 50. Imaginem se meu pai tivesse conhecido o Parcão?

Aqui realizei meus estudos, fiz minhas amizades e lancei raízes familiares, todas nativas, a ponto de confundir minhas próprias origens.

Quando chegou a hora de escolher uma profissão, como bom filho, deletei a música por absoluta falta de talento. Para desespero do Maestro, ele tinha gerado uma nulidade musical; uma verdadeira aberração. Assim fiquei com a segunda de suas paixões: a Medicina. A ciência e a arte não estão na verdade tão distantes. Quando a ciência toca o homem, ela se torna uma arte. A prática da Medicina é uma arte, apenas baseada na ciência. Há também duas formas de verdade. A verdade que ilumina o caminho e a verdade que aquece o coração. A primeira é a ciência e a segunda é a arte.

Realizei minha formação superior na Faculdade de Medicina da UFRGS, tendo prosseguido minha especialização em Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e com o Prof. Arthur Mickelberg a quem devo muito do meu conhecimento.

Ao conhecimento, a vida me ensinou a agregar a sabedoria, sem o que, o primeiro pouco vale; tampouco há sabedoria sem espiritualidade, cuja essência inclui o serviço ao próximo, com ética, dedicação e respeito. Não pelo julgamento alheio, mas por nós. Disse um filósofo: “O que vale é o que somos e o que fazemos quando ninguém está olhando”. Minha origem européia me deu a disciplina. Assim sendo, sempre tentei utilizar essas virtudes essenciais para a prática de uma Medicina útil às necessidades da minha gente. O respeito quanto ao sofrimento humano e às necessidades dos nossos semelhantes é outra condição essencial para a prática de uma Medicina passível de reconhecimento. Cuidar dos outros, como gostaríamos que tomassem conta da nossa própria família; este deve ser o ideal a ser perseguido. Estou certo de que tenho tentado fazer o melhor. O julgamento dos resultados fica para a história.

A semente foi plantada em solo fértil. Meus dois filhos, Fábio e Márcia, seguiram a segunda paixão do avô e também cursaram Medicina na mesma Universidade que me acolheu. Fábio, formado há três anos, fazendo especialização no exterior, sonhando em aplicar na nossa Porto Alegre os conhecimentos lá adquiridos, e Márcia no limiar da sua formatura.

Mesmo naturalizado sempre me incomodou a sensação do ser sem sê-lo. Sempre me vi como brasileiro. No documento de identidade diz “brasileiro”. Mesmo assim, convocado para o serviço militar, fui relegado ao excesso de contigente. Não que quisesse necessariamente prestá-lo, mas a frustração foi que, como médico, não poderia fazer parte da tropa; como estrangeiro nato, não poderia ser oficial, nem de reserva. De quem estavam falando? Quem era eu?

Na verdade, esta foi a única pátria e o único lar que conheci.

Tardou, mas finalmente agora eu sei.

Alberto Einstein disse: “O homem que perdeu a capacidade de maravilhar-se é como um homem morto”. Estou maravilhado! Eu acrescentaria que sonhar também é viver. Sempre acalentei, na intimidade dos meus pensamentos a fantasia, aparentemente utópica, de um dia ser reconhecido como verdadeiro cidadão. Não simplesmente no formalismo de um documento de identidade, obtido por um requerimento e meia dúzia de comprovantes. Mas pela burocracia do coração, carimbado pelos sentimentos do carinho fraternal que aproxima os iguais, corroborado pelo reconhecimento de uma existência útil ao próximo. Temia nunca fazer por merecê-lo.

Quando o Ver. Pedro Américo Leal, meu amigo de tantos anos e de tantas lutas, a quem respeito e admiro profundamente, por toda uma vida em prol da minha Cidade e do meu País, teve a gentileza e o carinho de propor esta honrosa homenagem, com o aval dos Srs. Vereadores e a chancela do Ex.mo Sr. Prefeito Municipal, finalmente descobri quem eu sou. Nos próximos congressos dos quais eu participei e onde habitualmente mostro os meus trabalhos, sempre enfeitados por paisagens de Porto Alegre, eu poderei, de agora em diante, completar com orgulho: Pedro Pablo Komlós, cirurgião vascular porto-alegrense e brasileiro. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Após termos ouvido o Dr. Pedro Pablo Komlós, tenho a absoluta certeza de que se alguma dúvida, Ver. Pedro Américo Leal, pairasse – e essa não paira – sobre a alta sensibilidade da indicação de V. Ex.ª e a sabedoria dos nossos pares, que, unanimemente, consagraram o seu pedido, e devo dizer até, com muita certeza, em grande parte em respeito a sua indicação, homem insuspeito, que não teria dado a Porto Alegre e a sua galeria de cidadãos honorários uma pessoa que não tivesse o brilho a capacidade e o merecimento do Dr. Pedro Pablo Komlós.

De qualquer sorte, quero registrar, com muita alegria a minha satisfação pessoal de estar, circunstancialmente, na presidência dos trabalhos, nesta Sessão Solene imorredoura da Câmara Municipal, onde nós todos tivemos a oportunidade de presenciar o orgulho com que o Dr. Pedro Pablo Komlós recebeu as honrarias que a legislação municipal, por determinação da iniciativa do Ver. Pedro Américo Leal, entenderam de outorgar. Sei que junto de mim, sei que está muito satisfeito nesse dia o ilustre decano do nosso Conselho de Cidadãos Honorários, seu Presidente e Coordenador, que aqui veio se somar e assistir a esta homenagem que coloca, na nossa galeria de Cidadãos Honorários, esta figura tão ilustre com esse trabalho tão profícuo, realizado com esse grande amor pela cidade de Porto Alegre, e, mais do que isso, com essa grande sensibilidade pessoal, que faz com que eu me permita, inclusive, a ousadia de uma correção. Ao se pronunciar, ele se identificou como uma aberração musical. Eu quero dizer que, ao contrário da sua colocação - me perdoe, o senhor, como Cidadão Honorário, não poderia ser corrigido -, o senhor é a comprovação de que “o fruto nunca cai longe da árvore”.

Meus cumprimentos. Foi um orgulho para mim presidir os trabalhos nesta Sessão Solene.

Neste momento convidamos todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos os senhores e senhoras que prestigiaram este evento, em especial ao representante do Sr. Prefeito Municipal, nosso colega Wilson Martins; ao Dr. Telmo Kruse, digno Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

 

Mais uma vez saudamos o Ver. Pedro Américo Leal, a quem nós creditamos por inteiro o êxito desta homenagem e desta iniciativa do Legislativo de Porto Alegre.

Tenham todos a certeza de que a Câmara Municipal viveu hoje um excepcional momento ao fazer justiça e ao introduzir na sua galeria de cidadãos honorários alguém que, sob todos os títulos, é merecedor da homenagem. Boa-tarde. Muito obrigado.

Damos por encerrada esta Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h04min.)

 

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